Comendador Dr. António de Sousa Mota (Última Homenagem)

Não tendo sido possível prestar a última homenagem ao Comendador Dr. António de Sousa Mota, aquando do seu falecimento e funeral, por esses factos terem ocorrido no Brasil, e também não o tendo sido possível aquando da missa do sétimo dia, como era nossa vontade e intenção, por o nosso Pároco entender que não deve autorizar esse tipo de intervenções dentro da igreja, utilizamos esta via para deixar registado o que pretendíamos ter dito publicamente.

Esta intervenção é feita pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação “Banda Musical de Melres”, por representar, pelo menos em teoria, todos os seus Associados, tanto do presente como do passado.

Não pretendo apresentar a biografia de António de Sousa Mota e devendo ser breve, quero apenas lembrar que saiu desta terra bastante jovem, trabalhou duro no Brasil, terá até enriquecido, mas nunca esqueceu nem os seus nem a sua terra, tendo passado a vida a ir e a vir, partilhando com muitos, a nível individual e de forma anónima, parte dos proventos que o seu trabalho lhe proporcionava.

Mas também o fez, de forma muito significativa, com a sua terra natal.

O Comendador António Mota era um homem muito inteligente, de visão e horizontes muito mais largos do que os do comum dos mortais, mas foi, sobretudo, um homem extremamente altruísta, magnânimo e um dedicado amante desta sua terra de Melres, partilhando com muitos o que o esforço e trabalho próprios lhe proporcionaram.

Basta vermos, a título meramente indicativo, os exemplos do salão paroquial ou o edifício sede da Banda Musical de Melres. A sua grande preocupação era a de dotar a sua terra com estruturas e equipamentos que, então, se tornaram necessários e, em relação à Banda, foi a de dotar esta Associação, que dirigiu com muita mestria e também muito altruísmo durante décadas, de instalações dignas e adequadas ao ensino e ao exercício da música e que, ao mesmo tempo, pudesse criar condições para a sua sustentabilidade económica.

Não foi só o Comendador António Mota que custeou a grande obra que é hoje a sede da BMM, mas foi ele que a sonhou e que teve o grande mérito e o condão de saber estabelecer as ligações certas, com as pessoas certas, no tempo certo, de forma a que os poderes públicos tivessem olhado para Melres com outros olhos e tivessem reconhecido que era fundamental dar concretização ao sonho do Comendador: Criar condições para que crianças, jovens e adultos se pudessem valorizar, dedicando-se ao estudo e ao exercício da música, enriquecendo-se culturalmente e defendendo-se de riscos que sempre aliciam a juventude.

António de Sousa Mota sempre pensou que uma criança ou um jovem que se dedicasse à música seria menos uma criança ou um jovem a frequentar os caminhos da droga ou da delinquência.

E não fez tudo isto para receber honrarias ou comendas (embora, merecidamente, lhe tenham sido atribuídas), pois nunca o vimos em bicos de pés.

António de Sousa Mota, embora de baixa estatura, foi de facto, um Homem Grande: para a sua família, para a sua terra e, em especial, para a Associação que cá dirigiu.

Assim, com a sua morte, todos perdemos muito e todos sofremos muito, e quero aproveitar este momento para apresentar as mais sentidas condolências a toda a sua família (esposa, filhas, genro, netos, cunhada e sobrinhos, que estão no Brasil; mas também às cunhadas e sobrinhos que estão entre nós, em Portugal), em especial – desculpem-me os demais – ao seu sobrinho muito amado, Amadeu Madureira (filho), que aqui sempre assessorou a obra do tio, e com quem tive a oportunidade de partilhar uma estadia muito recente no Brasil, expressamente para nos despedirmos do Dr. António Mota, tendo ambos tido a felicidade de ainda convivermos com alegria com o tio e amigo e de lhe alimentarmos o desejo de o ter cá no próximo Verão, como fez questão de diariamente o repetir.

Assim, à família, de lá e de cá, quero dizer que não estais sozinhos na vossa dor e que todos nós, Melrenses, sofremos convosco e convosco estamos solidários.

Em relação à Banda (Sócios, Músicos, Maestro, Dirigentes, Professores e demais Colaboradores), quase nos sentimos órfãos, pois perdemos o nosso grande Timoneiro, de muito tempo, mas se nos lembramos que António de Sousa Mota é um daqueles homens “que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”, sabemos que o teremos sempre entre nós.

É certo que o corpo do Sr. Comendador ficou no Brasil, mas não tenho dúvidas de que o seu coração está em Melres.

Assim, tendo sempre em mente o grande legado que nos deixou e tentando fazer sempre melhor para, também dessa forma, o homenagearmos, não há qualquer motivo para sentirmos essa orfandade.

E como sou daqueles que acredita que a morte corresponde a um segundo nascimento para uma outra vida, da qual nunca se mais morre, António de Sousa Mota estará sempre vivo entre nós, pelo menos, enquanto os nossos corações o não conseguirem esquecer.

Bem-haja, pois, por todo o bem que nos proporcionou, nosso grande amigo António Mota, e que goze da felicidade eterna!

Melres, 20 de dezembro de 2018

(Pedro Dias Ferreira)

 

 

Auditório da Banda Musical de Melres